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  • Writer's pictureCelina Sobreira

Como apagar lembranças dolorosas apenas com o movimento dos seus olhos

Um tipo de terapia que vem se tornando bastante popular pode diminuir lembranças negativas e auxiliar no seu bem estar



Um tipo de terapia que vem se tornando bastante popular pode diminuir lembranças negativas e auxiliar no seu bem estar

  • Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (EMDR) é uma terapia utilizada para uma série de problemas graves, incluindo ansiedade e depressão

  • Ela consiste em movimentar os seus olhos da esquerda para a direita de 20 a 30 vezes

  • Simpatizantes dizem que essa terapia pode diminuir lembranças negativas e aumentar o bem estar

A pequena sala é silenciosa, quente e funcional. Duas mulheres estão sentadas em cadeiras. Uma delas está movendo a mão direita para trás e para frente diante dos olhos da outra, que segue o movimento atentamente.


Pode até parecer uma sessão de hipnose, mas esse estranho ritual de movimentação ocular é uma terapia cada vez mais popular chamada Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (EMDR), que é utilizada como alternativa para uma gama de problemas sérios, incluindo Transtorno de Estresse Pós-Traumático (PTSD), ansiedade, depressão e estresse.


Simpatizantes dizem que movimentar seus olhos da esquerda para a direita de 25 a 30 vezes pode diminuir lembranças negativas e, consequentemente, o impacto delas no seu bem estar.


Fazer isso repetidamente, e com o acompanhamento de um psicólogo treinado, mais de 40 vezes em uma sessão de uma hora de duração, pode mudar sua vida incomensuravelmente para melhor, é o dizem os especialistas.

E existe uma boa razão pela qual processar lembranças negativas pode melhorar o seu bem estar mental. A maioria das lembranças normais são processadas pelo cérebro, contextualizadas e então desaparecem com o tempo, mas o mesmo não acontece com más recordações.


‘As lembranças são processadas de acordo com as nossas experiências anteriores, são reconhecidas e então são assimiladas,’ explica o renomado psicólogo clínico e ex-presidente da Associação de EMDR no Reino Unido e Irlanda, Dr Robin Logie.

‘Nós aprendemos a partir das nossas memórias: objetos quentes não devem ser tocados, certas comidas devem ser evitadas. Isso tudo fica arquivado e, de maneira geral, lembranças de muito tempo atrás se tornam vagas.’


Mas se você tiver uma experiência ruim, essa lembrança negativa fica congelada no tempo. ‘O seu cérebro não consegue processá-la e a lembrança retorna em forma de sonhos e flashbacks, geralmente junto com uma resposta física como náusea ou dor.’

‘Ao invés de desaparecer, ela permanece tão clara quanto no dia em que aconteceu. Ela não foi corretamente processada.’


Varreduras no cérebro têm mostrado que quando um evento traumático acontece, há um aumento de atividade na parte do cérebro que armazena as lembranças associadas aos sons, toques e odores, mas não nos lobos frontais onde o raciocínio acontece.

Portanto os traumas são armazenados no cérebro como imagens vívidas, sensações ou sons. Uma vez alojadas, essas lembranças não desaparecem e exercem uma influência desproporcional sobre um comportamento subsequente.


Todo mundo tem pelo menos um exemplo de lembranças não processadas flutuando em suas mentes: um ex companheiro cuja infidelidade afetou o relacionamento; um comentário que não deveria ter sido ouvido e que colocou a confiança de uma amizade em teste; ou uma avaliação danosa de um professor.


Francine Shapiro, que criou essa terapia, sugere que existem aproximadamente 10 ou 20 lembranças não processadas que são responsáveis pela maioria das dores das nossas vidas.


A terapia EMDR se baseia em colocar essas más recordações no seu devido lugar. Aqueles que já tentaram, como Hannah Cooper, 38 anos, que trabalha na área de logística de cadeia de suprimentos e mora em Leicestershire com seu marido e engenheiro, David, não tem palavras suficientes para descrever o processo.

Com um histórico de ansiedade que se remete ao fim do casamento dos seus pais quando ela tinha 11 anos, Hannah decidiu em dezembro passado que ela precisava de ajuda.


‘Existiam pequenos sinais de que as coisas não estavam bem: eu estava sendo mal humorada com o meu marido, eu me sentia muito cansada sem motivo,’ diz ela.

Hannah sofreu de depressão anteriormente e já fazia terapia então ela consultou sua terapeuta, a psicóloga clínica Dra. Alexandra Dent. A Dra. Dent, que foi treinada na terapia EMDR, sugeriu que ela tentasse essa abordagem. Já nas primeiras três sessões, Hannah identificou algumas lembranças travadas.


‘Racionalmente falando, eu sei que a separação dos meus pais não é minha culpa. Mas existiam certas lembranças muito reais que estavam congeladas, exatamente como se eu tivesse ainda 11 anos de idade e pudesse ouvi-los discutindo.’


‘Minha mãe botou meu pai pra fora de casa e atirou uma caneca nele. Eu tinha dado aquela caneca para ele no dia dos pais e estava escrito Papai nela.’


Toda vez que pensava nessa cena, Hannah se sentia mal de tanta tensão.

Durante a quarta sessão com a Dra. Dent, elas começaram a dessensibilizar as lembranças usando o movimento ocular. Esse processo começa com o paciente se concentrando em aspectos chave da memória, seguindo os movimentos do dedo do terapeuta da esquerda para a direita que, em intervalos regulares, pergunta ao paciente o que ele está percebendo.


‘Eu, na verdade, não percebi os movimentos da mão da esquerda para a direita,’ diz Hannah. ‘Eu estava totalmente imersa em viver aquela lembrança, e ela era tão vívida que eu poderia sentir o cheiro do pós-barba do meu pai.’


Depois, Hannah se lembra de ter sentido uma grande leveza.


‘Agora, eu me sinto mais positiva e voltei a praticar corrida novamente. As pessoas percebem a minha felicidade.’


Ela diz que se tivesse tentado descrever essa lembrança antes da terapia EMDR, ela teria explodido em lágrimas. ‘É algo que ainda está lá, mas no lugar certo, e não mais afetando a minha vida.’


De onde alguém poderia ter criado esse conceito?


Foi uma observação casual. A psicóloga clínica Francine Shapiro, americana, sofria por conta de um problema pessoal agonizante em 1987. Ela percebeu que se ela movesse seus olhos de um lado para o outro, seus pensamentos perturbadores desapareciam sem ter que fazer um esforço consciente para isso. Ela testou essa teoria pensando propositalmente em coisas horríveis enquanto movia os olhos. Para sua surpresa, o resultado foi o mesmo.


A terapia EMDR tem um corpo de pesquisa científica por trás que comprova a sua efetividade no tratamento de traumas severos. Ela não só está disponível pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, como a sua aprendizagem é obrigatória para as equipes de saúde mental do Ministério da Defesa que atuam na linha de frente.

Você ainda acha que soa ridículo? Jane Steare, a mãe de Lucie Blackman, que foi assassinada no Japão há 16 anos, se beneficiou dessa terapia, assim como um paciente que sofria de Transtorno de Estresse Pós-Traumático e que estava no mesmo vagão do metrô onde aconteceu um dos atentados de 7 de Julho em Londres.


O patrono da Associação de EMDR do Reino Unido e Irlanda é o ex-refém do grupo extremista Hezbollah, Terry Waite.


O Dr. Logie diz: ‘Quando você movimenta seus olhos, você está reduzindo as suas reações emocionais a um único evento e você tem uma capacidade maior de avaliar e processar esse acontecimento de forma independente. Em segundo plano, o evento é reprocessado, e você pode pensar nele de maneira mais racional.’

Então por que funciona?


Algumas pessoas acreditam que os movimentos oculares permitem que você processe as lembranças da mesma maneira em que a fase do sono de movimento rápido dos olhos (REM), onde você sonha, mas seus olhos se movimentam.

Quando você adormece não é possível tomar a decisão de focar em um único evento, mas quando você está acordado e movimenta os olhos dessa maneira você está no controle da situação.


Uma segunda possibilidade é a chamada teoria da ‘memória trabalhadora’. Você só consegue manter tanta coisa na cabeça uma única vez. Distrair a si mesmo movimentando os olhos ajuda você a trabalhar o trauma sem que ele – metaforicamente falando – te acerte bem no meio da cara.

O Dr. Logie acredita que qualquer pessoa pode se beneficiar dessa terapia, e revela que durante o treinamento todos os profissionais recebem EMDR e todos encontram alguma coisa mal resolvida.


Existem, como em qualquer área, terapeutas desonestos, ele adverte. Você deve ter certeza de só se consultar com um professional treinado pelas orientações europeias de EMDR – visite emdrassociation.org.uk para encontrar o mais próximo de você.

Em alguns casos, apenas uma sessão de terapia EMDR já pode ajudar você a encaixar uma lembrança traumática no seu rumo natural, ou seja, no lugar em que ela para de afetar a sua vida.


Alguns pacientes dizem que eles conseguem pensar sobre essas situações como pertencentes a um passado que não é mais angustiante. Elas se tornam racionais.

Parece que a terapia EMDR também pode ser de grande ajuda em problemas mais comuns como desordens alimentares.

Psicologicamente falando, essa terapia se encaixa perfeitamente em um dos jargões científicos: neuroplasticidade, que se refere ao fato de que nós podemos treinar o cérebro.


Na EMDR, os pacientes redirecionam seus próprios caminhos neurais para armazenar as lembranças corretamente.

Solucionar a dor causada por más recordações foi durante anos assunto de ficção científica, mas agora, com um piscar de olhos, isso finalmente parece ser possível.


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