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  • Writer's pictureCelina Sobreira

Amnésia ética: por que políticos esquecem o que fazem de mau




Nas últimas semanas, as delações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado colocaram importantes políticos do PMDB em uma situação bastante desconfortável — que pode render resoluções mais desconfortáveis ainda se depender do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu a prisão de três deles: o presidente do Senado, Renan Calheiros, o senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney.


Nos áudios que Machado entregou à polícia, é possível saber sobre o “pacto para estancar a sangria” promovida pela operação Lava-Jato, proposto pelo ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR); a proposta de mudança na lei da delação premiada sugerida por Renan Calheiros (PMDB-AL); e a declaração de José Sarney (PMDB-AP) de que delações de empreiteiros da Odebrecht seriam “uma metralhadora de [calibre] ponto 100”. Entre outras afirmações constrangedoras até para Eduardo Cunha — que também está na mira de Janot.


Em nota, os políticos se defenderam dizendo que não viram tentativa de obstrução da justiça nos áudios e que estavam perplexos e indignados com o vazamento.

A posição oficial dos líderes não surpreende a ciência. Para a psicologia, é natural que as pessoas queiram esquecer de atos que as lembrem de situações ruins, como quando você xinga alguém e responde “Eeeu???”, ao ser confrontado. Segundo pesquisadores, isso tem nome: amnésia antiética.


Psicólogos da Northwestern University e da Harvard Business School descobriram que lembrar de memórias ruins causa “desconforto psicológico”. E isso tem a ver com o conceito do “eu”. Como afirma o site Science of Us, “é natural descartar evidências de que não somos pessoas éticas”. Talvez, isso explique a dificuldade de Eduardo Cunha em querer renunciar à presidência da Câmara.


Com base nisso, pesquisadores da Universidade Princeton fizeram nove experimentos com mais de duas mil pessoas. Em dois destes experimentos, os voluntários eram convidados a escrever sobre experiências éticas e não éticas de suas próprias vidas. Os cientistas puderam perceber que as ações éticas das próprias pessoas eram lembradas com muitos detalhes. O mesmo não pôde ser dito das memórias antiéticas. Já as lembranças de ações positivas e negativas de outras pessoas eram lembradas com o mesmo nível de detalhamento. Sérgio Machado sabe bem disso.


Em outro teste, os psicólogos avaliaram a generosidade dos participantes em um jogo de cara ou coroa no qual eles poderiam mentir para conseguir mais dinheiro. Duas semanas depois, os avaliadores testaram a memória dos participantes e constataram mais uma vez que quem havia roubado tinha uma memória mais seletiva.

Maryam Kouchaki, uma das autoras do estudo, explicou que a amnésia tem uma qualidade de proteção. As pessoas julgam ser agentes da moral e dos bons costumes — alguns exaltam em alto e bom som a luta e os “serviços prestados” ao país —, até que esta moral imaginária entra em conflito com atos reais. Como afirma o Science of Us, a amnésia antiética age como um comportamento defensivo de adaptação, ajudando nosso ego a contornar verdades indesejáveis.


Fonte: revistagalileu.globo.com

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